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Entrevista 

com Lia Rejane

Parte 03

Uau!

Foi o primeiro trabalho que eu escrevi sobre folclore. Eu ganhei uma bolsa pra Venezuela.

Nossa... A mulher é a única!

Só que eu nunca fui. Ou eu ia para a Venezuela ou eu casava. Então eu resolvi casar.

É aquela história ou eu caso ou eu compro uma bicicleta. No seu caso eu vou pra Venezuela.

É, é. Essa era um pouco melhor comprar uma bicicleta que era ir pra Venezuela. Então eu decidi casar. Na verdade eu não ganhei a bolsa porque eu disse “não vou”. Era Dona Dulce Lamas a professora, mas o meu trabalho de final de curso foi publicado, que é sobre pontos de macumba.

Que bárbaro, temos que ler. Recuperar.

Pois é. Então eu tenho essa revista e é assim um espanto porque ela tem, se eu não me engano, na contracapa, eles colocaram que querem fazer intercâmbio, se eu não me engano são 17 línguas. Tem em coreano, tem chinês, tudo que você pode imaginar.

Nossa! Mas Rejane, na Revista Pesquisa e Música, você introduz recentemente, quando ela fica online, algo muito interessante que é a possibilidade de se colocar exemplos musicais na revista e poderem ser audíveis.

Em áudio. É, porque em partitura já se tinha.

Essa potência da internet, dessa linguagem nova. Você usando também na história acadêmica. Não é só de ler, mas também de escutar.

Exatamente. Eu fiz isso em 2009 ou 2010 eu não sei, eu sou editora do Voices, que é editado na Noruega, e eu sou editora pra América do Sul, e eu escrevi como editora do Voices. Agora não tem mais, mas a gente tinha uma obrigatoriedade de escrever uma coluna ou duas por ano, dependia muito do que acontecia, e eu fui escrevendo sobre vários trabalhos de brasileiros e uma das colunas que eu escrevi foi sobre o trabalho da Raquel Siqueira, que ela acabou gravando um disco com as composições de samba dos pacientes num carnaval. Foi um carnaval que tinha um homem que voava.

É, das Escolas de Samba.

Isso, é bom dizer onde. E como ele é online, eu coloquei um samba da Escola de Samba, de nome é “Preconceito”, do CD da Raquel, não é? E foi assim... Eu recebi e-mails de várias partes do mundo, porque, claro, em alguns lugares isso é muito difícil das pessoas conhecerem. O samba para eles é como se fosse uma música chinesa para nós mais ou menos.

E você lá, muitos trabalhos você divulgou para o mundo, de brasileiros e de cariocas, não é? Você foi essa porta-voz pra gente.

Foi, e acabei escrevendo um livro sobre isso que o título do livro é “Vozes da Musicoterapia Brasileira”, porque o nome do jornal é Voices. E aí eu peguei todos os trabalhos de musicoterapeutas brasileiros que foram colocados lá e juntei tudo num livro, mais ou menos baseada no que o Brynjulf Stige – que é, ainda hoje, o editor do Voices, agora junto com a Katrina Mcferrin da Austrália – fez, que foi um livro que é “Voices da Musicoterapia Mundial”. Ele pegou alguns trabalhos e colocou lá. Eu estou com um trabalho dos meninos de rua.

E você inspirada nisso fez as nossas vozes.

Foi, eu fiz as nossas vozes, que resultou num bom livro, porque tem gente de SP, tem a Cristiane Ferraz do Eisntein... Você tem um trabalho lá também, não tem? Do câncer? Não é isso?

Não, da Fundação Leão XIII. Câncer eu acho que é a Beth.

A Beth eu não sei se é de câncer, enfim, tem a Ana Maria Delabary.

Tem o Nelsinho.

Tem o Nelson que foi o primeiro brasileiro que publicou depois de mim, que tinha as colunas, foi o primeiro que publicou, foi o Nelson. Eu acho que ele ainda era aluno, com o conceito de notas de segurança, que foi a monografia dele... Tem muita gente, enfim.

Rejane, estamos chegando ao fim aqui do nosso programa. Eu quero dizer que eu sou a Marly Chagas e que estou entrevistando a Lia Rejane Barcellos, que eu já cheguei falando, mas Rejane é uma pessoa que é pianista, tem graduação em Piano, não é Rejane? Graduação em Musicoterapia, mestrado em Educação Musical.

Não, Especialização em Educação Musical e Mestrado e Doutorado em Musicologia.

O Mestrado aqui no Conservatório, hoje nós não temos mais e o Doutorado na UNIRIO. É essa pessoa.

Musicoterapeuta clínica, porque trabalhei e ainda trabalho, não é?

Professora...

Tenho andado por esses caminhos aí, pra lá e pra cá, como muitos musicoterapeutas, que você sabe, você também anda pra lá e pra cá nesses caminhos todos, não é? No sentido de percorrer muitos caminhos na clínica ainda hoje, não é? Todos nós, na clínica, na docência, na supervisão, na Associação... É uma luta.

Nesse programa, a gente mapeou um pouco das suas histórias aqui no Conservatório, não é? Mas ainda falta a Associação...

Não, só ficou de fora a Associação, porque pegou o Voices. Ah, não, faltou a Federação também!

Na Federação que você foi ...

Eu fui duas vezes do Conselho Diretor e Coordenadora da Comissão de Práticas Clínicas.

Inclusive aquela belíssima definição de musicoterapia que nós todos usamos. Muita gente não sabe que...

Foi feita pela Comissão!

Que foi um trabalho que você coordenou com um trabalho danado, não tinha e-mail, vinham as perguntas e....

Foi... É histórico. Não tinha e-mail, era por carta, a gente levou três anos pra fazer aquela definição.

Para fazer uma definição que contemplasse todos os aspectos da musicoterapia daquela época. Hoje algumas coisas a mais existem, mas como é completo, como é lindo e que beleza de trabalho!

Era uma loucura, porque não tinha e-mail, exatamente como você disse. Tinha fax já, mas nem todo mundo tinha fax, então a gente fazia por carta. Alguém mandava uma frase de três palavras e pra isso tinha que ir, porque era gente de todos, todos os continentes eram representados.

Era um trabalho realmente democrático.

Foi um trabalho trabalhoso. Exatamente, que não tinha internet.

Mas todos puderam falar e discutir.

Tinha Nova Zelândia, tinha Noruega. Nova Zelândia era Daphne, não me lembro do segundo nome dela, Even Ruud da Noruega, tinha a Diane Austin dos Estados Unidos, da Argentina o Roberto Reccia e do Brasil o Marco Antônio Carvalho Santos e eu. E depois novamente eu peguei a Comissão de prática clínica e fiz um levantamento, que é um levantamento que nem devia estar na gaveta. É um levantamento da prática clínica no mundo inteiro.

E está na gaveta?

Está...

Então nós temos que publicar na revista Pesquisa e Música!

É verdade, é um trabalho...

Porque tem que sair da gaveta! Ainda que seja datado daquela época, é histórico!

Ele tem doze anos.

Mas é isso, não é? Bom, agradeço muito a você Rejane. É um prazer enorme estar aqui.

Eu é que agradeço a você.

E vamos conversar mais, vamos conversar por aí...

Uma conversa de comadres, aqui pra nós...

Uma conversa de comadres porque assim fica gostoso!

Claro que fica, completamente solta. Obrigadíssima.

Não é, Pedro? Pedro é nosso técnico aqui. Muito obrigada, muito obrigada ao estúdio. Temos esse novo espaço de música e saúde no Conservatório Brasileiro de Música, teremos outros programas gostosos, com musicoterapeutas que estão fazendo trabalhos também bacanas.


Superimportante.

Desse nosso estado, quiçá desse nosso pais, quiçá da América Latina, e quem sabe do mundo. O Conservatório Brasileiro de Música está aí mesmo, não é? Muito obrigada. Espero que vocês tenham gostado. Estará online este programa para a gente poder ouvir quando quiser.

Obrigada, Marly, pelo convite, por estar aqui, pela amizade e pela, como se diz? Está faltando a palavra... Por essa caminhada juntas!

Pela cumadragem! 

Agora está na hora de acabar. Beijo e obrigada.

Beijo.


    
 

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