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Lembranças escritas

Homenagem à Lia Rejane Barcellos

Por Vera Bloch Wrobel

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Querida Rejane:

Ao iniciar a redação desse breve texto em sua homenagem, percebi que poderia escrever um livro. Desde os idos de 1970, até os dias de hoje, em que ocorreram tantos encontros, iniciados com as suas aulas à nossa turma no primeiro ano do curso, passando por eventos acadêmicos, orientações, supervisões, estudos, leitura de seus textos, tenho acompanhado suas incursões no exterior, além dos seus contatos com musicoterapeutas de vários países. Acrescento nessa jornada sua prática clínica, seu crescimento pessoal com o mestrado e o doutorado, e, sem esquecer, a sua transmissão durante décadas aos inúmeros alunos da graduação e da especialização.

Portanto o passado existe com muitas histórias, um patrimônio de reminiscências, ao qual podemos recorrer como se estivéssemos assistindo um seriado em capítulos. Escolhi então abordar o tempo presente, através de um encontro com um texto seu que inexplicavelmente nunca li. Sim, porque tenho um arquivo com todos seus textos e esse me escapou, embora conhecesse essa sua prática clínica, que, acredito, seja para você, uma das mais significativas no seu imenso currículo.

Há poucas semanas, resolvi pesquisar na internet musicoterapia baseada em evidência. Trata-se de um tema que não estou muito familiarizada, uma vez que exerci, ao longo dos anos, musicoterapia baseada na experiência. Encontrei então, na revista Música Hodie – n.2, de Goiânia, seu artigo “Musicoterapia em Medicina: uma tecnologia leve na promoção da saúde - a dança nas poltronas!”

Li com redobrada atenção e, confesso, aprendi conceitos novos, logo na introdução. Tal fato atesta o quanto você sempre abriu “avenidas musicais”, expressão do musicoterapeuta canadense Collin Lee, que você cita no texto, à qual eu acrescentaria: você sempre abriu estradas musicoterapêuticas para o campo teórico da musicoterapia brasileira e estrangeira.

Quanto à sua descrição do trabalho clinico de “musicoterapia em medicina”,  desenvolvido a partir  de um convite da Fundação do RIM, na Clínica de  Doenças Renais, aqui no Rio de Janeiro, você enfrentou um trabalho inédito: musicoterapia com crianças e adolescentes durante a diálise.

Com sons e ritmos, tendo como co-terapeuta a musicoterapeuta e psicóloga Mariana Barcellos, você conseguiu abafar o ruído das máquinas, possibilitando aos seus(as) pacientes o exercício da criatividade inata no ser humano.  E, num momento em que a paciente G., sugere uma canção para a paciente S., cuja poltrona estava vazia, a canção escolhida, um pagode que menciona choro, separação e perda, serviu para expressar

uma dor, talvez sufocante, mas que teve o espaço e o tempo para ser vivenciada e acolhida por você, Rejane: um legítimo exemplo do que é musicoterapia!

Mais do que a relação terapêutica, vejo no seu relato um encontro terapêutico, como costumo denominar as sessões de musicoterapia. Um ser humano recolhendo do outro as necessidades de uma esperança, quando não se sabe o que pode acontecer no momento seguinte.

Querida Rejane, não me estendo mais, mas agradeço a Deus por tê-la não apenas como uma mestra transmissora de inúmeros saberes, mas sobretudo pela imensa amizade que nos une, compartilhando o amor à musica e ao piano! Fico muito feliz quando você me passa uma sucinta mensagem tarde da noite: “Yuja Wang no canal Arte1! E assim tenho a oportunidade de ver e ouvir essa maravilhosa pianista que eu não conhecia! E tantos outros pianistas e orquestras!

Obrigada Rejane,  com meu carinho e admiração, e a alegria de participar dessa bela e tão merecida homenagem que a AMT-RJ  organizou para você!

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