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Lembranças escritas

Sonhos e Realizações

Por Ana Maria Loureiro de Souza Delabary

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Os sonhos alimentam e animam a vida. A perspectiva de realizá-los reveste-se de esperança e produz o entusiasmo para persegui-los. Em alguns momentos o entusiasmo até pode arrefecer mas, dificilmente se extingue. Nesse contexto, o que dizer de quem tem como destino facilitar a realização de sonhos?

A tarefa não é fácil, mas me empenho em escrever, encorajada pela voz da mestra que ainda ressoa em meus ouvidos, dizendo diante de algumas situações: “no te achiques” – expressão bastante usada na nossa fronteira com o Uruguai. Falo então de minha vivência com a amiga e professora.  

Para isso, penso na música como uma frondosa e copada árvore. À sua sombra nos encontramos e construímos nossa amizade. Sua ampla fronde oferece grande variedade. Inúmeros aspectos e atividades no mundo rítmico-sonoro formam sua ramagem. Das raízes, a seiva que a alimenta vem de nossos ascendentes como um avô e um pai, amadores de voz e violão. Também, coincidentemente, por volta dos cinco anos de idade iniciamos nosso contato com o piano. De sua parte, um sério e dedicado estudo. Da minha, nem tanto mas, apesar dos percalços, a graduação concluída.

Nos ventos da vida alguns galhos balançam como um aceno. Oportunidades diversas no mundo da música, da história à linguagem, da harmonia ao contraponto e à composição, foram vivenciadas e estudadas por Rejane, além da interpretação pianística. Tudo sempre partilhado com colegas e alunos, no Rio, no mundo, sem esquecer a terra de origem que, mesmo à distância, acompanha sua trajetória.

No final da década de 70, a convite das Faculdades Unidas de Bagé, hoje URCAMP, vem ministrar um curso. Reencontramo-nos sob a frondosa árvore. Mostra um novo ramo que se desenvolve viçoso e promissor em frutos. A musicoterapia é apresentada fomentando sonhos na mente e esperanças no coração. As possibilidades da música fascinam e encantam.  Naquele momento, porém, para mim era impossível fazer uma formação nessa área. Ainda assim, de toda a ramagem, aquela ramificação passou a ser a mais atraente e observada, ainda que distante.

Os anos foram passando e o meu trabalho na universidade favorecia a organização de cursos e eventos.  Muitas vezes Rejane veio colaborar conosco e sempre estive presente como aluna. Foi precisamente no 2º Encontro de Música do Cone Sul, em 1996, quando realizou uma oficina de musicoterapia, que me falou do curso de especialização no Conservatório Brasileiro de Música. Uma alegria imensa se fez, ao lado da expectativa enorme, alimentada por vários anos.  Estimulada por ela e com a vontade reforçada pelo apoio de meus familiares, fui para o Rio de Janeiro. Bons ventos faziam aquele ramo ficar mais próximo de mim. Foram aulas e convívio que muito me enriqueceram. Abriram novas perspectivas de vida e as portas para um trabalho gratificante. Tudo isso graças a ela, musicoterapeuta e professora, que concebeu e criou essa possibilidade com o curso de pós-graduação, que oportuniza a capacitação a tantas pessoas que procuram utilizar a música em prol da saúde e bem estar do ser humano.  

Características próprias como dinamismo, responsabilidade e comprometimento, não permitem que ela se acomode. E lá vai a professora para o mestrado e o doutorado. Como resultado, os ganhos maiúsculos para a musicoterapia em sua dissertação e sua tese. Sempre com uma devolutiva a seus alunos e colegas, através dos estudos aprofundados que enriquecem grandemente o corpo teórico e tanto beneficiam a prática clínica.

Particularmente, preciso falar de sua generosa ajuda na elaboração e orientação de projetos desenvolvidos em Bagé, a partir de 1998, quando iniciei meu estágio de final de curso.  Seu apoio irrestrito tem sido fundamental. Por ela começou a musicoterapia em nossa cidade. Há crescimento em profundidade e extensão. A amiga e mestra é referência para essa expansão e credibilidade. O ramo ficou mais robusto, tem mais visibilidade. Suas flores e frutos são mais apreciados e podem ser colhidos.

À sua disponibilidade e inestimável auxílio devo a implantação do trabalho clínico que tem buscado levar solidariedade e esperança, mitigar dores do corpo e da alma, incentivar à busca de qualidade de vida, atendendo a milhares de pessoas durante estes vinte anos em nossa cidade.

A música nos irmanou no ideal. A árvore frondosa abrigou e permitiu sonhar.  Necessitei, no entanto, de ajuda para perceber, para enxergar, para utilizar adequadamente os subsídios que oferece, na concretização do sonho. Então contei com sua presença, ao meu lado.

À Rejane que sempre divide os seus saberes e por isso tanto os tem multiplicado, meu reconhecimento e gratidão!

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