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Lembranças escritas

Homenagem à Lia Rejane Barcellos

Por Maristela Smith

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Rejane,

Pela admiração e respeito que sempre senti por você, agradeço estar presente neste evento de comemoração dos 50 anos da Associação Brasileira de Musicoterapia, ou melhor, da Associação de Musicoterapia do Rio de Janeiro, que a referenciacom a consagração do seu nome e da sua pessoa, lhe transformando no ícone da Musicoterapia brasileira.

Muitos anos se passaram, mas, recordações ímpares jamais deixarão de existir. Posso, então, citar algumas reminiscências? Vamos lembrar um pouquinho das muitas vezes em que estivemos juntas:

Em 1972, penando para apresentar, musicalmente, toda a teoria que havíamos pesquisado sobre patologias diversas, suspirávamos um “Que sufoco!”. Tínhamos que elaborar uma simulação terapêutica para um professor de Psicologia.  Querem saber? Deu certo! Por que não haveria de dar se, já naquela época você me inspirava? Daquele dia em diante, vi que formávamos uma parceria ótima!

Nas aulas da Cecília Conde, nossa diretora, como nos divertíamos! Lembro-me de suas risadas e também de quando você colocava a seriedade do que estávamos experimentando, já nos ensinando que, nas brincadeiras aprendemos muito!

E nos estágios? Lembro-me bem de você que, com aquele fusca azul calcinha, me pegava no ponto de ônibus e íamos juntas para a Sociedade Pestalozzi do Brasil, ter aulas práticas com a DorisHoyer de Carvalho. Nas voltas, eu queria ouvir música e cantar bem alto, mas, você sempre colocava as gravações feitas dos pacientes, em fitas K7, para estudarmos o que tinha ocorrido. Lá íamos nós analisando, musicalmente, tudo o que tinha acontecido. Quando você me deixava no ponto de ônibus da Rua das Laranjeiras, onde eu morava, saía com a cabeça pegando fogo!!! Você dizia: “Nada de ficar ouvindo música, Teca. Isso você pode fazer em casa. Melhor é analisarmos o que fizemos!”. Eu respondia: “tá”.

Lembro-me, também, muito claramente, das nossas supervisões com o querido Dr. Paulo César Muniz, médico neurologista da ABBR (Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação). Você arrancava o nosso couro. Tínhamos que ler e estudar muito para, diante dele, não falarmos besteiras. “Temos que ter moral diante da área médica; mostrar que sabemos o que estamos fazendo”, você dizia. O Dr. Paulo nos amava e nós a ele!

Os quatro anos em que estivemos juntas, na mesma classe, dividimos muito, compartilhamos muito, nos tornamos amigas.

Quando nós nos formamos, fizemos um jantar espetacular! Todas de vestidos longos e cabelos feitos, com muito orgulho de termos chegado ao fim da nossa jornada profissional, desabafávamos nosso desejo de continuarmos juntas, mas entendendo que a vida continuaria e que assumiríamos nossos pacientes não mais como estudantes, mas, agora, com toda a responsabilidade de profissionais musicoterapeutas.

Só que, aí, voltei para São Paulo para me casar. Você foi no meu noivado! Comemos brigadeiros e rimos da situação, pra não chorar, com a minha partida. Não sabia o que iria encontrar em São Paulo, assim que chegasse como musicoterapeuta. Me lembro que, quando me despedi de você, você me disse: “Vai, Teca, assume a profissão lá e conta com a gente, aqui”. Nós nos afastamos fisicamente mas, nunca me esqueci de nossas peripécias!!!

Em 1995, quando coordenei o VIII Simpósio Brasileiro de Musicoterapia, no Parlamento Latino-americano, no Memorial da América Latina, em São Paulo, você participou como a figura central e mais importante dos convidados, brilhando como uma estrela. Nos intervalos, continuamos nossas brincadeiras e risadas, pois estávamos juntas novamente, mesmo que por alguns dias. Mas, estávamos felizes.

Anos mais tarde, em 2001, nos encontramos no 10º Congresso Mundial de Musicoterapia, na Universidade de Oxford, na Inglaterra, onde você apresentou um lindo trabalho. Depois da obrigação, a diversão, típico do seu comportamento! Assim, passeamos demais, a pé, olhando o povo na rua, nas feiras de artesanato ... e você queria comer frutas. Compramos mangas, peras e maçãse fomos para o seu quarto do hotel. Rimos tanto que não conseguimos comer direito. A nossa turma era indescritível! Alegre, engraçada e séria, ao mesmo tempo. Você, Rejane, sempre nos passou segurança.

Ano passado, em 2017, escolhi você para ser membro da mesa avaliadora de defesa do meu doutorado em Psicologia Social, na USP/PUC. Fiquei honrada em ter aceitado o meu convite e orgulhosa de ter você como a musicoterapeuta da mesa. Pra mim, foi o dia em que coroei a minha atuação profissional.

Quero lhe agradecer; dizer que você está e estará eternamente no meu coração e na minha mente. Quero lhe agradecer por engrandecer a nossa profissão, por compartilhar seus conhecimentos e por lutar tanto para realizar novas conquistas, novas vitórias que, sei, um dia virão.

Todos nós te amamos demais!!!

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